Moro num país tropical

Moro e caixa 2'

Por Ronaldo Souza

As condições geográficas/climáticas dizem se um país é ou não tropical.

A não ser por algumas áreas tropicais em determinados países (Flórida nos Estados Unidos, Townsville na Austrália), de modo geral os países tropicais são do terceiro mundo.

Entre eles, muitos, lamentavelmente, não possuem um sistema democrático consistente de governo, que consiga enfrentar interferências externas poderosas. Por isso, é comum que sejam governados por tiranos, ditadores, golpistas e por aí vai.

Não são tidos como países sérios e seus povos, ainda que alguns possuam educação profissional formal em níveis interessantes, não costumam apresentar bom nível de cultura geral e por isso são alheios às reais demandas sócio-políticas de uma sociedade desenvolvida e justa.

Pelo menos alguns deles parecem se caracterizar pelo gosto por festas.

São quase sempre povos festeiros.

Carnaval e paixão pelo futebol são ingredientes fortes nessa composição.

É comum que em países com essas características os poderes se voltem para os seus interesses particulares em detrimento da nação e do seu povo.

As suas elites são deploráveis.

Pela visão obscura da ignorância e baixo nível intelectual, são responsáveis diretos pelo subdesenvolvimento característico desses povos.

Resultado; uma história em que se contempla admiração e subserviência históricas a determinados países.

Não à toa, a quantidade de golpes militares e parlamentares, estes mais recentemente, em que o judiciário, também envolvido no processo, empresta ares de legalidade à tomada do poder.

A entrega do país pelos donos do poder às vezes assume ritmo acelerado. É a pressa pelo temor de reversão da traição.

E a visão curta dos seus apoiadores não permite ver a falência institucional e o que isso significa e os danos irreversíveis à nação. Imaginam que o resto do mundo não percebe a ilegalidade e imoralidade que constituem o processo.

Esse é o panorama ideal para o surgimento de salvadores da pátria, verdadeiros messias, alguns dos quais têm linha direta com Deus.

Intransigentes, incorruptíveis, inflexíveis, puros, castos, dignos, honestos, diante de sociedades incultas e incautas hasteiam a bandeira da morte à corrupção e aos corruptos.

A inconsistência e o oportunismo desses homens saltam aos olhos e se manifestam em cada esquina das ruas desertas de dignidade, ainda que eventualmente ocupadas por milhares de pessoas.

Homens a quem faltam inteligência, sensibilidade e conhecimento da história política e da trajetória do povo do seu próprio país.

A despeito disso, entretanto, encantam e seduzem com extrema facilidade essas plateias carentes de tudo.

Os exemplos dessa ausência de inteligência e sensibilidade se mostram com clareza solar, mas não são percebidos pelos sem noção, que veem neles competência e dignidade.

Situado entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, o Brasil é o maior país tropical do mundo.

E foi nos trópicos brasileiros que um juiz foi guindado ao posto de herói nacional.

Não haveria de ser aqui que a elite escaparia do seu destino provinciano.

Não haveria de ser aqui que os pretendentes a elite escapariam do seu destino provinciano.

Em recente e lamentável episódio, do alto da sua insensatez, mais uma vez Moro expôs a sua arrogância ignorante.

Físico brasileiro consagrado internacionalmente, professor emérito da UNICAMP, Rogério Cerqueira Leite escreveu o artigo Desvendando Moro, em que faz críticas a Moro, acusando-o de “intolerância moralista” e dizendo que “a história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública”.

Acostumado a enfrentar a tudo e a todos do alto do poder (temporário) que lhe deram, Moro escreveu para o jornal e, além de reclamar, sugeriu à Folha censura ao autor, entre outros aspectos por considerar que o texto era panfletário.

O velho hábito dos déspotas; pedir a cabeça dos que exercem o contraditório.

Embora críticas a qualquer autoridade pública sejam bem-vindas e ainda que seja importante manter um ambiente pluralista, a publicação de opiniões panfletárias-partidárias e que veiculam somente preconceito e rancor, sem qualquer base factual, deveria ser evitada, ainda mais por jornais com a tradição e a história da Folha”.

Evitar como?

Censurando-o.

E olha que se trata de um juiz, guardião da Constituição que estabelece como cláusula pétrea a liberdade de expressão.

Como aqueles que não têm a menor noção do que é ser Chico Buarque e mesmo assim o abordam na rua chamando-o de petista (meu Deus!!!), Moro resolveu confrontar Rogério Cerqueira Leite.

No seu mundo limitado, o juiz Moro desconhece o ensinamento, não sei se de Sun Tzu ou outro autor:

“Quando o inimigo for mais forte, não confronte, contorne”.

Na sua crítica à caçada feita a Lula, o físico chamou a atenção de Moro para o que aconteceu com Girolamo Savonarola, o padre que desafiou a Igreja e foi queimado vivo em Roma, dizendo que ele poderia ser abandonado pelos que até agora sustentam sua atuação na Lava-Jato:

“Cuidado, Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes”.

Pobre Moro.

Perdeu-se completamente na noite escura e traiçoeira da ignorância.

Em momento de grande reflexão Bolsonariana, quem sabe Doriana, no seu artigo de resposta ao professor Cerqueira Leite lamentou o fato de o professor “chegar a sugerir atos de violência contra o ora magistrado”.

Meu deus, meu Deus, meu Deus!!!

Sabe aquela linguagem de delegacia?

“O meliante se apresentou munido de…”

O professor Rogério Cerqueira Leite respondeu em carta à seção do leitor da Folha.

A humilhação do “ora magistrado” foi inevitável.

Moro e Cerqueira Leite'

Complexo de vira-lata

O complexo de vira-lata habita a alma de muitos brasileiros em todos os segmentos da nossa sociedade, da ciência ao judiciário.

É inadmissível e absolutamente desrespeitoso que, também do alto da sua ignorância, um procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol, atribua ao povo português a culpa pelos males do Brasil, como colonizadores que foram do nosso país.

Os Estados Unidos, ao contrário, seria um país de homens bons, puros e dignos (meu Deus!) graças à sua colonização, que se deu pelo bom, puro e digno povo inglês.

Segundo o procurador, somos uma raça inferior.

Graças ao povo português!!!

Quando um juiz brasileiro diz que propina depositada na Suíça é crime mas deixa de ser crime porque NÃO ESTÁ FAZENDO MAL A NINGUÉM, o que se deve pensar dele?

Mesmo procurando entender que ele estava diante dos que o permitem ser o que é e a quem, portanto, precisa dar explicações, não há como tentar minimizar a sua fenomenal estupidez.

Essa visão tupiniquim do nosso país e do seu povo se dissemina pelo mundo, para plateias como aquela para a qual ele falava e nos torna um país de terceiro mundo.

Aos olhos deles, um país de moleques.

Um país tropical.