A cultura do estupro mental

Cultura do estupro 1

Por Ronaldo Souza

Há poucos dias veio à tona um tema muito importante para a sociedade, apesar da sua torpeza.

A cultura do estupro.

Algumas postagens sobre o tema que estavam próximas à que eu tinha acabado de fazer não me escaparam.

Mesmo já me considerando um pouco acostumado com o nível, morri de vergonha e tive muita pena das pessoas que postaram.

No entanto, tive particularmente muita pena de suas mulheres.

Em uma o jovem mancebo (como diriam os antigos escritores), do alto da sua sabedoria e sensibilidade, num tom sarcástico perguntava:

“Alguém pode me explicar o que é cultura do estupro? ”.

E vomitava mais algumas preciosidades.

O outro majestosamente completou, certamente recorrendo à sua rica formação de nível superior:

“Nunca aprendi isso em nenhuma escola. Nunca vi ensinar isso em nenhuma faculdade”.

Acabavam de cometer mais dois estupros ao bom senso e desnudavam a ignorância e incapacidade de perceber a dimensão dos seus próprios gestos e atos.

Não sei porque, veio-me a possibilidade de que devem até se conhecer e que talvez tenham frequentado ou frequentem os mesmos ambientes.

Não precisavam ir longe.

Bastava que tivessem alguma capacidade de perceber quem é o ídolo deles.

Cultura do estupro Bolsonaro

Percepção é algo intimamente associado à capacidade mental.

A percepção em Psicologia, para dar um exemplo, submete-se a algumas exigências.

Veja o que li em um breve texto sobre o assunto.

 “A percepção tem duas etapas, a sensorial e a intelectual. As duas se complementam, porque as sensações não proporcionam uma visão real do mundo, e devem ser trabalhadas pelo intelecto”.

 Observe que as sensações do dia-a-dia exigem um trabalho intelectual para a sua metabolização.

As pessoas simples, entenda-se simples como alguém cujo horizonte intelectual é menor, dada a visão mais curta costumam não perceber aquilo que está fora do seu alcance.

Quando Carlos Costa Pinto (Museu Costa Pinto) disse que “a felicidade do homem está em nascer burro, viver ignorante e morrer de repente”, mostrou toda a sua lucidez.

A ignorância à qual ele se refere significa justamente isso, a incapacidade de ver aquilo que está além da visão de pouco alcance.

Um ditado popular define bem isso:

“O que os olhos não veem, o coração não padece”.

Por isso essas pessoas são felizes.

Nos últimos tempos têm sido muitos os momentos em que a ausência de percepção tem se manifestado e vários seriam os exemplos.

Fiquemos com um que parecia estar ultrapassado.

Naqueles episódios em que as pessoas ligadas ao PT eram hostilizadas até em funeral, ficou famoso um em que um advogado, Danilo Amaral, interrompe o jantar dos presentes para “prestar uma homenagem” a Alexandre Padilha, médico, então Ministro da Saúde do governo Dilma.

Uma cena deprimente.

Há ambientes que você não precisa entrar para saber que as sinapses neuronais de alguns dos seus frequentadores não se dão nos melhores níveis fisiológicos.

Aquele restaurante é um deles, da mesma forma que outros o são.

O advogado e seus amigos fizeram a festa em cima de Padilha.

Ali estavam homens sérios e dignos fazendo o bom combate a aquele governo único em corrupção.

Dali sairiam alegres e saltitantes para um próximo domingo de manifestações contra a corrupção com as suas camisas amarelas da CBF e cantando o Hino Nacional.

Mas…

Hoje vemos que aqueles mesmos políticos que apontavam o dedo da corrupção para o PT assumiram o governo.

Sob o comando de Eduardo Cunha, o grande maestro.

Todos envolvidos em escândalos de corrupção, já conhecidos de outros carnavais.

Com eles, as pobres almas que vagueiam vida afora e que se deixam levar pela música de uma nota só da imprensa brasileira, como na lenda do canto do cisne, conduzidas como cordeiros para o sacrifício final:

O absoluto analfabetismo sócio-político.

Cultura do estupro mental

O advogado Danilo Amaral, protagonista do vídeo, é só uma das ferramentas das quais dispõem os pastores para conduzir a manada.

É apenas e tão somente mais um corrupto que, como os demais, tira proveito da situação.

Mas a ele coube também outro papel, mesmo que involuntário; expor o que é a manada.

Pobres andarilhos perdidos pelos caminhos da ignorância.

Como esperar que percebam a cultura do estupro se são vítimas da cultura do estupro mental?